TRANSFIGURADOS NO SACRIFÍCIO

16/03/2012 11:05


(2° Domingo da Quaresma – Ano B – 1ª leitura: Gn 22, 1-2. 9a, 10-13. 15-18/ Sl:  115(116) /2ª leitura: Rm 8, 31b – 34/ Evangelho: Mc 9, 2-10)

A Transfiguração de Jesus
Irmãos e irmãs o Santo Evangelho nos apresenta a cena da Transfiguração do Senhor, assim narra o evangelista: “Transfigurou – se diante deles, Suas vestes tornaram – se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas”. Mc 9, 3.
Jesus na Sua Transfiguração mostrou aos discípulos a glória e esplendor que emanam da Sua divindade. Jesus não Se transformou em outro, mas mostrou aquilo que Ele é: Deus com Sua glória e majestade.
Nós também precisamos nesse tempo quaresmal nos transfigurar para sermos aquilo que Deus quer que sejamos: Santos e participantes de Sua glória.
Precisamos ter o coração voltado para Cristo, Ele é o centro, por isso, de repente Jesus está sozinho, como nos diz São Marcos: “E, olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, se não só a Jesus com eles”. Mc 9, 8 um pouco antes se ouve a voz do Pai proclamada da nuvem: “Este é Meu Filho muito amado; ouvi-O”. Mc 9, 7.
É necessário que não estejamos mais no centro, mas que seja Cristo a ser Aquele que nos conduz, a razão de nossa vida. É necessário ouvirmos a voz de Jesus e obedecer.
Contudo sabemos que não é fácil essa nossa Transfiguração de pessoas orgulhosas em pessoas humildes de pessoas que ouvem a si próprias para pessoas que unicamente ouvem ao Senhor.
Essa Transfiguração exige de nós renúncia, sacrifício; a idéia da necessidade do Sacrifício está muito presente na liturgia de hoje. Na primeira leitura Deus exige de Abraão o Sacrifício de seu único filho: “Deus disse: toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai a terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que Eu te indicar”. Gn 22, 2.
Contudo, se Deus poupou o único filho de Abraão, não poupou Seu único Filho para o Sacrifício, é o que nos diz a Segunda Leitura: “Aquele que não poupou Seu próprio Filho, mas que por todos nós O entregou, como não nos dará também com Ele todas as coisas?” Rm 8, 32.
A idéia de Sacrifício também está no salmo: “Oferecer – Vos – ei um Sacrifício de louvor, invocando o Nome Santo do Senhor”. Sl 115 (116), 8.
A idéia de Sacrifício está presente na cena da Transfiguração, pois se fala da Ressurreição: “Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto até que o Filho do Homem houvesse ressurgido dos mortos”. Mc 9, 9.
A Transfiguração foi a força necessária para os três apóstolos: Pedro, Tiago e João, também passarem pelo Sacrifício que no Horto das Oliveiras já estava começando.
Nas antigas religiões, havia um sacerdote que representava o povo, e ele realizava um Sacrifício que na maioria das vezes consistia na oferta da vida de uma vítima. Muitos povos antigos ofereciam  vítimas humanas. O povo judeu foi proibido por Deus em oferecer Sacrifícios humanos e no lugar de seres humanos ofereciam animais: touros, bodes, carneiros... Para purificar pecados, mas a Carta aos Hebreus nos recorda: “Isto é também uma figura que se refere ao tempo presente sinal de que os dons e os Sacrifícios que se ofereciam eram incapazes de justificar a consciência daquele que praticava o culto”. Hb 9, 9.
Estes Sacrifícios como diz a carta eram incapazes de purificar pecado, o Sacrifício por excelência capaz de purificar é o Sacrifício de Jesus “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
O Sacrifício de Jesus foi oferecido no Calvário, ao padecer, sofrer morrer, na Cruz e ressuscitar para a nossa salvação. Jesus é por excelência o Sumo e Eterno Sacerdote que oferece o Sacrifício agradável ao Pai ao mesmo tempo em que oferece, Ele Se oferece, pois Ele também é a vitima. Jesus oferece a Si próprio o Santíssimo Sacrifício de Seu Corpo e Sangue. A Carta aos Hebreus fala deste assunto: “Cristo entrou, não em santuário  feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio Céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus e não entrou para se oferecer muitas vezes a Si mesmo, como o Pontífice que entrava todos os anos no santuário para oferecer sangue alheio. Do contrário, lhe seria necessário padecer muitas vezes desde o principio do mundo; quando é certo que apareceu uma só vez no final dos tempos para a destruição do pecado pelo Sacrifício de Si mesmo.” Hb 9, 24-26.

O Sacrifício de Abraão   
Irmãos poderíamos nos perguntar se o Sacrifício de Jesus no Calvário foi único, como celebramos várias vezes o Sacrifício da Missa?
Sabemos que o Sacrifício da Missa tem estreita relação com Sacrifício da Cruz. Contudo não significa que o Sacrifício da Cruz sempre se repete, pois o Sacrifício do Calvário é único, no entanto é Sacrifício eterno.
A Carta aos Hebreus diz que Jesus continua a Se apresentar no Céu ao Pai como nosso intercessor. A Santa Missa é esse contínuo oferecer-Se ao Pai, é Jesus quem continua apresentando-se ao Pai para nossa salvação. A Santa Missa é perpetução do Sacrifício do Calvário; cada vez que celebramos a Missa estamos diante da Cruz do Senhor.
A Palavra de Deus nos mostra a relação do Sacrifício Eucarístico com a Paixão do Senhor: “Isto é Meu Corpo que é dado por vós...
(...) Este Cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue que é derramado por vós.” Lc 24, 19-20 e também: “Assim todas as vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice lembrais a Morte do Senhor, até que venha”. 1 Cor 11, 26.
Essa lembrança não é recordação distante, e sim o que Jesus chama de memória; memória para os judeus significa reviver. Jesus mandando que realizássemos o Sacrifício em Sua memória significa reviver o Seu Sacrifício, torná-lo presente, é justamente o que fazemos em cada Santa Missa.
O Papa João Paulo II fala disso em sua carta sobre a Eucaristia: ”A Missa torna presente o Sacrifício da Cruz, não mais um Sacrifício e nem o multiplica. O que se repete é a celebração memorial, a exposição memorial, de modo que o único e definitivo Sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo.
Virtude da sua íntima relação com o Sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é Sacrifício em sentido próprio. Sacrifício que o Pai aceitou retribuindo essa doação total de Filho, que Se fez obediente até a morte, com Sua doação paterna, ou seja, com o dom da nova vida imortal, na ressurreição. ”Ecclesia de Eucharistia, 12-13.
Porém, não bastaria para nossa salvação que Cristo Se oferecesse, é necessário que nos ofereçamos com Ele, por Ele e Nele, também para a salvação do mundo, é o que nos diz o Concilio Vaticano II: “Pela participação no Sacrifício Eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, os fiéis oferecem a Deus, a Vítima Divina e a si mesmos juntamente com ela.” Lumen Gentium, 11   
É necessário que nessa quaresma nos ofereçamos a nós mesmos em Cristo ao Pai no Espírito Santo.
Sacrifício da Cruz e Sacrifício da Missa
Recordo agora a boliviana Catalina, que viu o que acontece durante a Santa Missa, ela assim se expressa:
“Logo começaram a ficarem em pé umas figuras que nunca tinha visto antes. Era como se ao lado de cada pessoa que estava na Catedral, saísse outra pessoa, e o lugar se encheu de uns personagens jovens, belos. Vestiam-se com túnicas muito brancas e foram saindo até o caminho central, dirigindo-se para o Altar.
Disse nossa Mãe: Observa, são os Anjos da Guarda de cada uma das pessoas que estão aqui. É o momento em que vosso Anjo da Guarda leva vossas oferendas e pedidos ante o Altar do Senhor.
Naquele momento eu estava completamente assombrada, porque esses seres tinham rostos tão formosos, tão radiantes como não se pode imaginar. Ostentavam rostos muito lindos, quase femininos, no entanto a compleição de seus corpos, suas mãos, sua estatura, era de homens. Os pés descalços não pisavam o solo, mas era como se deslizassem, escorregassem. Aquela procissão era muito bonita.
Alguns deles tinham como uma fonte de ouro com algo que brilhava muito com uma luz branco-dourada; disse a Virgem: ‘São os Anjos da Guarda das pessoas que estão oferecendo esta Santa Missa por muitas intenções, aquelas pessoas que estão conscientes do que significa esta Celebração, aquelas que têm algo a oferecer ao Senhor...
Oferecei neste momento..., oferecei vossas penas, vossas dores, vossos sonhos, vossas tristezas, vossas alegrias, vossos pedidos. Lembrai-vos de que a Missa tem um valor infinito, portanto, sede generosos em oferecer e em pedir.’
Atrás dos primeiros Anjos vinham outros que nada tinham nas mãos, levavam-nas vazias. Disse a Virgem: ‘São os Anjos das pessoas que, estando aqui, nunca oferecem nada, que não têm interesse em viver cada momento litúrgico da Missa e não têm oferecimentos para levar ante o Altar do Senhor.’
Por último iam outros Anjos que estavam meio tristonhos, com as mãos unidas em oração, mas com os olhos baixos.Falou a Virgem: ‘São os Anjos da Guarda das pessoas que, estando aqui, não estão, isto é, das pessoas que vieram forçadas, que vieram por obrigação, mas sem nenhum desejo de participar da Santa Missa. E os Anjos vão tristes porque não têm o quê levar diante do Altar, salvo suas próprias orações.
Não entristeçais o vosso Anjo da Guarda... Pedi muito, pedi pela conversão dos pecadores, pela paz do mundo, por vossos familiares, vossos vizinhos, por aqueles que se encomendam a vossas orações. Pedi, pedi muito, não somente por vós, mas pelos outros.
Lembrai que o oferecimento que mais agrada ao Senhor é quando ofereceis a vós mesmos como holocausto, para que Jesus, ao descer, vos transforme por Seus próprios méritos. Que tendes a oferecer ao Pai por vós mesmos? O nada e o pecado; mas ao vos oferecer unidos aos méritos de Jesus, esse oferecimento é agradável ao Pai.’
Aquele espetáculo, aquela procissão era tão bela, que dificilmente seria comparável a outra. Todas aquelas criaturas celestes fazendo uma reverência diante do Altar, umas deixando sua oferenda no chão, outras se prostrando de joelhos com o rosto quase ao solo e, assim que ali chegavam, desapareciam de minha vista.”

Os Anjos e o Sacrifício de Jesus
Não podemos deixar os nossos Santos Anjos da Guarda de mãos vazias, procuremos nesses dias de penitência algo para oferecer a Deus.
Só nos oferecendo e nos sacrificando em cada Santa Missa participada, e também ao comungarmos de Seu Corpo e Sangue, nós seremos transformados Nele e por Ele. E se realizará o que se reza na Oração Eucarística III: “Contemplando-Vos como sois, seremos para sempre semelhantes a Vós.”
A Virgem Imaculada Co-redentora do Gênero humano alcance a graça que pedimos no hino da Virgem das Dores: “Trazer as chagas de Cristo gravadas no coração.” Coração chagado pela salvação dos irmãos, coração transfigurado na glória do amor que se oferece.